O efeito do saber bíblico e teológico constitui crentes estruturados na fé cristã, conscientes e menos emotivos; embasados e não influenciáveis; analíticos e acríticos, humanos e não deuses; servos e menos senhores. Certamente que nem teólogos, eclesiásticos ou leigos obterão sucesso no estudo bíblico e teológico sem o auxílio do Espírito Santo (1 Co 2.10; Jo 14.26; Lc 24.45).
O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento… (Os 4.6).
Este artigo será avaliado por alguns como exposição encomendada e pretensiosa e eu serei mais uma vez repreendido por irmãos “que se acham mais espirituais e preparados”. Por outro lado consortes da teologia, alunos de instituições de ensino da área e esforçados leitores da Palavra de Deus o apreciarão – e é para estes que dedico algumas horas da madrugada para refletir sobre a bíblia e preparar textos para colunas evangélicas. Trata-se de um texto aberto, informal e sem muito do pertinente vocabulário teológico embarcado em teses, docências e homilias. Infelizmente o cabedal desses conhecimentos em sua riqueza cultural erigido sobre história, sociologia, filosofia, filologia e por tantas outras ciências e afins teológicos, tem separado irmãos por falta de diálogo, maturidade e razão cristã. Teólogos e estudantes da matéria muitas vezes, injustamente, são considerados arrogantes, prepotentes e egocêntricos – e esse é um mal entendido que precisa ser resolvido.
Não julgueis pela aparência, mas julgai segundo o reto juízo (Jo 7.24).
Por seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas dos espinheiros…? (Mt 7.16).
Não defendo a todos da barca teológica contemporânea, pois alguns se tornaram liberais ou proponentes de uma teologia por demais existencial. Aqueles que se esfriaram ou se desviaram da fé não foi por conta da teologia – mas exatamente por se distanciaram dela (Pv 13.13; Jo 12.48). Estes não creem mais na inspiração verbal e plenária da bíblia, no nascimento virginal e ressurreição de Cristo, no porvir e tratam a Palavra como um conjunto de mitos (1 Tm 1.7; Lc 11.52; 2 Tm 4.2). Outros se declararam ateus, mesmo que a teologia natural ou Teodicéia, que é matéria filosófica argumente a favor da existência de Deus. Outra parte desprezou o arcabouço doutrinário das Escrituras para seguir distintivos sistemas teológicos baseados apenas na epistemologia filosófica e sociológica (2 Pe 2.1), trabalhando em prol de “logias” de enfrentamentos (teologias como da libertação, negra, feminista e inclusiva) que nada mais são que a expressão de grupos que achando-se discriminados, elaboraram aparentes estruturas bíblico/teológicas fincadas no humanismo e quase sempre manifestadas em esquerdismos raciais, sociais, políticos, econômicos e religiosos.
Portanto, eis que eu vos envio profetas, sábios e escribas: e a uns deles matareis e crucificareis; e a outros os perseguireis de cidade em cidade (Mt 23.34).
Todavia, teólogos que prezam a labuta acadêmica em função do estudo, preservação e ensino da teologia bíblica, são discípulos e obreiros de Jesus (Lc 6.40; Gl 3.28). Podem ter pontos de vista dos quais discordemos (porque pesquisam, lêem e estudam com entrega e exaustão e isso lhes permite analisar um mesmo tema sobre diferentes prismas), mas geralmente são educados e compreensivos propondo o caminho do diálogo para evitar embates (2 Pe 3.18). Sentem-se às vezes excluídos das rodas de conversa dos outros irmãos, pois sabem que existe um tratamento preconceituoso quanto à sua fé aparentemente racional e sua vida cristã teórica e nada pragmática. São julgados como se fossem todos fariseus no comportamento, escribas no entendimento e saduceus em questões imateriais e sobrenaturais (1 Co 4.5; Mt 7.1; Lc 6.42).
Ajuda com empenho a Zenas, doutor da lei, e a Apolo, para que nada lhes falte na sua viagem (Tt 3.13).
A teologia bíblica sempre se apresentou na história da igreja (às vezes foi ignorada), esteve na linha de frente da apologia da fé cristã, na sistematização das doutrinas, nos posicionamentos, reformas e despertamentos bíblicos do povo de Deus. Meus irmãos, não tenham os teólogos e exegetas como frios e indiferentes; considere-os como hábeis observadores atentos ao curso histórico, teológico e social da própria igreja em sua referência passada, militância presente e projeção futura. Entenda-os como quem recebeu fé salvadora pela Palavra e que pensa sobre a razão e perspectivas da fé doutrinária (2 Pe 3.15); receba-os como semelhantes de Apolo (At 18.24); classifique-os como dedicados estudantes da Palavra do Senhor e não como consumidores de letras mortais. É por conta de muitos estudiosos atuantes, que modismos sorrateiros e venenos doutrinários são denunciados e combatidos no meio cristão – cito como exemplo a prédica contra a teologia da prosperidade (At 17.10-12; Ef 4.14).
Quando vieres traze…; os livros, especialmente os pergaminhos. (2 Tm 4.13)
Teólogos que estão a serviço da Igreja de Cristo não se consideram melhores que ninguém, apenas porque possuem conhecimento admirável; na verdade são ministros a serviço do discipulado e edificação espiritual da igreja do Senhor (Ef 4.11; 1 Co 3.5; 12.28). Precisamos combater e mudar essa cultura de desvalorização teologal e estas idéias descabidas de que estudioso no meio evangélico/pentecostal não tem experiência com Deus, que está fadado à morte espiritual pelo apego literário e conseqüentemente desviado do Reino dos Céus (exegese equivocada de 2 Co 3.6). Na verdade essa minha articulação enfatiza que a empírica teológica por meio das Escrituras nos levará para cada vez mais perto do Senhor, estreitará nossa comunhão com Ele e desenvolverá a vida cristã sob o poder do Espírito (Jo 5.39; 17.17; Lc 24.45).
Os estudiosos remanescentes e defensores das verdades bíblicas, obviamente não são inimigos da cruz de Cristo. Quando encontrar algum desses abençoados mestres, ofereça-lhes seu cumprimento cristão, dê-lhes um abraço e veja que são tão amados do Pai como você. Que o Santo Espírito desenvolva em nós a cada dia o amor e a fé em Jesus; porque nEle sendo teólogos ou não somos todos filhos de Deus (Gl 3.26).